48% dos adolescentes que saíram da escola na pandemia foram trabalhar, aponta Unicef

A pandemia impactou gravemente o acesso à educação e o nível de aprendizagem das crianças e adolescentes no Brasil. Cerca de 2 milhões de alunos não estão frequentando a escola. O que representa 11% das pessoas de 11 a 19 anos no Brasil. Quase metade (48%) deles deixaram os bancos das escolas para trabalhar.

Os dados fazem parte da pesquisa ‘Educação brasileira em 2022 – a voz de adolescentes”, realizada pelo Ipec (ex-Ibope) a pedido da Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A pesquisa ouviu estudantes que estão na rede pública de ensino, e também aqueles que não completaram o ensino médio e não estão mais frequentando a escola.

Dos entrevistados que relataram não frequentar mais a escola, 4% dão da classe AB, enquanto, na classe DE, chega a 17% — ou seja, é quatro vezes mais.

 

Além do trabalho, diversos aspectos contribuíram para o abandono escolar nos últimos anos. Dificuldades de aprendizagem é um dos motivos relevantes, com 30% afirmando que saíram “por não conseguirem acompanhar as explicações ou atividades”.

Em seguida, 29% dizem que desistiram, pois “a escola não tinha retomado atividades presenciais” e 28% afirmam que “tinham que cuidar de familiares”. Temas como falta de transporte (18%), gravidez (14%), desafios por ter alguma deficiência (9%), racismo (6%) também foram citados. Cada entrevistado podia escolher mais de uma opção.

Motivos para ter parado de estudar

  • Porque tem que trabalhar fora – 48%
  • Por não conseguir acompanhar as explicações ou atividades passadas pelo professores – 30%
  • Porque a escola ainda não tinha retomado atividades presenciais – 29%
  • Por ter que cuidar de outros familiares na sua casa – 28%
  • Porque sente que a escola é desinteressante – 27%
  • Porque prefere fazer aulas e atividades remotas – 25%
  • Porque não gostava dos seus colegas ou professores – 19%
  • Porque sente que a escola é pouco útil – 18%
  • Por falta de transporte para ir até a escola – 18%
  • Por ter mudado de casa ou por ter que viajar com frequência – 18%
  • Porque não se sente acolhido na sua escola – 17%
  • Por causa de violência no seu bairro ou região em que mora – 16%
  • Por falta de infraestrutura da escola que você estudava – 15%
  • Por ter ficado grávida ou ter tido um filho ou filha – 14%
  • Faz parte do grupo de risco da Covid-19, ou tem alguém em casa nesse grupo – 12%
  • Por ter algum conflito com a lei ou com autoridades – 10%
  • Por falta de condições financeiras para retornar – 10%
  • Por ter alguma deficiência que o(a) impede de ir à escola – 9%
  • Por falta de documentação, como RG, certidão de nascimento ou comprovante de residência – 9%
  • Por causa de casos de violência na sua escola – 9%
  • Por ter alguma doença que o(a) impede ou dificulta a ir para a escola – 7%
  • Por sido alvo de preconceito ou discriminação racial – 6%

Risco de aumento

Dos alunos que continuam na escola, 21% pensaram em desistir da escola nos últimos três meses. “Não conseguir acompanhar as explicações ou atividades passadas pelos professores” foi o motivo citado por metade dos entrevistados. Eles citam “sente que a escola é desinteressante” (38%) e “não se sente acolhido na sua escola” (35%).

Retorno ao ensino presencial

Pesquisa permite confirmar as dificuldades de acompanhamento e estrutura vividas pelos estudantes. E apresenta o retorno de forma animadora. No retorno presencial à escola, 50% dos alunos relatou ter tido “e dificuldade para manter uma rotina de estudos” e 46% “sentiu despreparado para acompanhar
as atividades escolares”.

Por outro lado, em comparação com antes do fechamento das escolas, eles apontam que, hoje em dia, os “cuidados com higiene na escola” aumentaram (66%). Outros índices que também tiveram a resposta “aumentou” na maior parcela das respostas foram: nível de exigência dos professores (56%) e quanto você aprende nas aulas (55%).

Sobre a pesquisa

Foram realizadas 1.100 entrevistas com meninas e meninos de 11 a 19 anos, organizadas de modo a ser representativas da população-alvo do estudo. As entrevistas pessoais domiciliares foram realizadas de 9 a 18 de agosto de 2022. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

 

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