Apoio de membros do PL a candidatos do PT deflagra nova crise no partido de Bolsonaro no Ceará

De cinco deputados federais eleitos em 2022, o PL Ceará tem, atualmente, três parlamentares. A baixa mais recente ocorreu na última sexta-feira (18), com a expulsão de Júnior Mano por ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A punição foi imposta depois que o parlamentar, ao invés de apoiar o correligionário André Fernandes (PL), participou de ato de campanha em prol da candidatura de Evandro Leitão, do PT, no segundo turno em Fortaleza.

O caso de Júnior Mano segue roteiro semelhante ao do deputado federal Yury do Paredão (MDB). Bolsonarista eleito pelo PL em 2022, mas que, no ano seguinte, estava fazendo o “L” ao lado de ministros e acabou expulso do partido.

Entre a última eleição municipal, em 2020, e o pleito atual, o PL passou por uma reviravolta nacional, e no Ceará não foi diferente. Então dominado por um um grupo tradicional na política cearense e integrante da base governista em âmbito estadual, o partido passou para as mãos dos aliados mais fiéis do ex-presidente Jair Bolsonaro, que se filiou à legenda em 2021. Desde então, embates entre membros do “antigo PL” e do “novo PL” viraram constantes, se acentuando nas eleições deste ano.

Antes da saída forçada de Júnior Mano, os alvos da cúpula do PL Ceará, sob comando do deputado estadual Carmelo Neto (PL), foram os prefeitos filiados à legenda que montaram composições com o PT. Tais ameaças e punições resultaram em uma debandada de mandatários da sigla, que não elegeu prefeitos neste ano no Ceará — a esperança da cúpula da legenda é sair vitoriosa ao menos na Capital, com André Fernandes no segundo turno.

Veja as crises do PL Ceará desde 2020 que resultaram na saída de filiados da sigla: 

Expulsão de Júnior Mano por apoio a Evandro Leitão

Júnior Mano chegou ao PL em 2019, egresso do Patriota. O parlamentar atualmente está no segundo mandato como deputado federal e tem reforçado sua liderança entre prefeitos do Interior. O berço político do mandatário é Nova Russas, município onde sua esposa, Giordanna Mano, foi reeleita prefeita. De perfil pragmático, o parlamentar mantém um histórico de boa relação com o Governo do Ceará e com o Governo Federal, mesmo quando um era ocupado por pelo petista Camilo Santana (PT) e outro pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Seguindo esse pragmatismo, Júnior Mano decidiu promover um evento de apoio a Evandro Leitão reunindo mais de 40 prefeitos cearenses O ato, que também contou com a presença de Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas (PT), ocorreu na última quinta-feira (17), um dia depois do próprio deputado federal anunciar que foi expulso do PL.

 

Júnior Mano em ato de apoio a Evandro Leitão (PT)
Legenda: Júnior Mano em ato de apoio a Evandro Leitão (PT)
Foto: Reprodução/Instagram Bruno Gonçalves

 

Em vídeo publicado nas redes sociais, o mandatário contou que Bolsonaro soube do evento por meio do presidente do PL Ceará, Carmelo Neto, e pediu ao presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, sua expulsão da sigla.

“Acabo de receber uma ligação do presidente estadual, Carmelo Neto, presidente do PL, no qual ele recebeu uma ligação do seu líder maior, o (ex-)presidente (Jair) Bolsonaro, dizendo que exigiria a expulsão do deputado Junior Mano do PL”, disse o próprio Mano no registro veiculado no Instagram.

No pronunciamento, o parlamentar — agora sem partido — falou do seu respeito, da lealdade ao PL e ao presidente nacional, Valdemar da Costa Neto. Pontuou ainda que seu apoio ao candidato petista aconteceu por entender que o Evandro é a melhor opção para Fortaleza diante do seu ex-correligionário, André Fernandes. “Voto no Evandro não é porque ele é do PT. Voto no Evandro porque ele é o melhor para Fortaleza”, disse o político.

Ex-presidente do PL deixa o partido para apoiar petista

O apoio de Júnior Mano não foi o único de uma liderança do “antigo PL” para Evandro Leitão. O ex-presidente da sigla, Acilon Gonçalves, também embarcou de cabeça na campanha petista no último dia 10 de outubro. O político aparece em vídeo ao lado do postulante à Prefeitura da Capital. A dupla ainda estava acompanhada do filho de Acilon, Bruno Gonçalves, prefeito reeleito de Aquiraz, e de Carla do Acilon (DC), vereadora eleita em Fortaleza.

“Quero aqui apresentar o posicionamento oficial do meu grupo político que, por amor a Fortaleza, convida todos para votar e eleger para Prefeito de Fortaleza o maior e o melhor Evandro Leitão 13”, disse Acilon. Logo após o anúncio, o presidente do PL Ceará, Carmelo Neto, também correu para as redes sociais, mas para esclarecer que Acilon havia se antecipado e já não pertencia mais aos quadros da legenda quando anunciou o apoio.

 

Acilon em carreata de campanha do candidato Evandro Leitão (PT) no último fim de semana
Legenda: Acilon em carreata de campanha do candidato Evandro Leitão (PT) no último fim de semana
Foto: Reprodução/Instagram Evandro Leitão

 

Ainda à época em que presidia o PL, Acilon foi tendo sua força dentro da sigla minada pela ala bolsonarista. Antes da filiação do ex-presidente, em 2020, Acilon articulou a eleição de mais de dez aliados como prefeitos em cidades da Região Metropolitana de Fortaleza e do Interior. Contudo, com a chegada dos bolsonaristas, o político passou a sofrer pressões locais e nacionais para radicalizar a sigla.

Em novembro de 2023, Acilon decidiu renunciar à presidência do PL alegando “dificuldades de relacionamento com pessoas do partido que não pertencem oficialmente à Executiva Nacional, tampouco à Executiva”. Ele seguiu na legenda até este mês, mas, na prática, migrou seu grupo político para siglas como PRD e DC, o que refletiu em parte da debandada de prefeitos do PL.

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