Única cidade brasileira a experienciar a vacinação da população em massa, o município de Serrana, distante 300 quilômetros da capital de São Paulo, já se prepara para retornar ao “antigo normal”, em que o distanciamento social e o uso de máscaras não é mais uma regra diária. Com cerca de 28 mil pessoas imunizadas com as duas doses da vacina, a expectativa dos habitantes agora é para a conclusão dos estudos que comprovem a garantia da proteção contra a doença.
Ainda assim, os moradores da pequena cidade paulista já conseguem ver uma luz com os indicadores da pandemia. A média móvel de casos na cidade se mantém abaixo de 35 desde o início de março deste ano, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Saúde de São Paulo. No período mais crítico da doença no município, em fevereiro deste ano, esse indicador chegou a ultrapassar a média de 100 casos.
Um estudo conduzido pelo Instituto Butantan, que lidera a vacinação em massa no município com a Coronavac, apontou a diminuição significativa de mortes em decorrência da doença — de 19 para seis entre os meses de março e abril, uma redução de quase 70%. Os resultados oficiais da iniciativa, batizada de “Projeto S”, começarão a ser divulgados ainda em maio pelo órgão. A informação é do portal R7.
O professor da Universidade de São Paulo (USP) Marcos Borges, diretor do Hospital Estadual de Serrana, celebrou a adesão do número de pessoas que aceitou voluntariamente participar da imunização. “Nós esperávamos uma cobertura vacinal de, pelo menos, 80%. Esse resultado mostra que a população entendeu a importância da vacinação e, consequentemente, da ciência”, considerou o especialista em entrevista ao site da instituição.
No total, 98% das pessoas que poderiam tomar a vacina na cidade foram imunizadas, representando um estudo inédito no mundo. Poderiam ser vacinados todos os habitantes com mais de 18 anos e só ficaram de fora mulheres grávidas, pessoas com doenças crônicas e pessoas com sintomas de Covid-19. Essa definição aconteceu no início do projeto devido à falta de conclusões científicas sobre a vacinação para esses grupos.
A campanha de vacinação foi responsável por dar mais destaque à cidade no mapa de São Paulo e do Brasil, criando as alcunhas de “cidade da ciência” e “capital da vacina”. Teve gente que queria desesperadamente mudar para Serrana, e a movimentação nas imobiliárias da cidade cresceu exponencialmente.
“Mais de 100 pessoas além da demanda habitual nos procuraram. Tivemos uma semana de euforia. Um cliente de Recife chegou a dizer que compraria uma casa para conseguir se vacinar, mas a gente procurou a Secretaria da Saúde, e eles disseram que o mapeamento já havia sido feito”, explica Manoel Messias de Oliveira, dono de uma imobiliária local em entrevista ao portal El País.
Vacinação como caminho para a economia
Ter uma população inteiramente vacinada contra a Covid-19 é um ativo raro atualmente, e a gestão pública do município quer tirar bom proveito disso. Uma fábrica de panos de limpeza, por exemplo, ocupará uma área de cinco mil m² na cidade e deve ter a obra concluída até 2022. Em entrevista ao jornal local EPTV 2, o diretor comercial Paulo Mello disse que o foco do investimento é garantir a saúde dos colaboradores e, desse modo, evitar faltas durante o ano.
“Hoje, nós somos 70 colaboradores, com produtos em todo o Brasil. A nossa intenção é triplicar a produção e triplicar o número de colaboradores. Acredito que com a vacinação em massa, nós vamos colher os frutos durante o ano inteiro que vem. A saúde é uma coisa muito importante”, afirmou Mello.