O delegado da Polícia Civil Carlos Alberto da Cunha, de 43 anos, mais conhecido como Da Cunha, revelou, no domingo (26), que contratou um roteirista de cinema para gravar, editar e divulgar as imagens sobre as operações policiais que participava no canal do YouTube. As informações são do colunista Josmar Jozino, no portal Uol.
O titular foi indiciado pela Corregedoria da corporação, no último dia 23, suspeito de cometer o crime de peculato — quando um funcionário público desvia dinheiro ou bens em benefício próprio ou de terceiros, em razão do cargo que ocupa. A pena para o delito varia de 2 a 12 anos de prisão, além de multa.
Em entrevista ao portal, Da Cunha admitiu ter contratado o roteirista James Jay Maas Salinas, 34 anos, para auxiliar na divulgação e produção do material policial para o canal dele no Youtube, mas afirmou que não monetizou os vídeos.
O cineasta foi ouvido pelo delegado Marquel de Araújo, da Divisão de Apurações Preliminares da Corregedoria Geral da Polícia Civil, em 11 de agosto deste ano. Em depoimento, ele afirmou que começou a trabalhar para o policial civil em fevereiro de 2020, tendo participado inclusive da suposta prisão de um chefe de facção, apontado como o Jagunço.
Salinas disse à Corregedoria que emprestava câmeras Go Pro para a equipe de agentes de Da Cunha para auxiliar nas gravações. Ele revelou ainda que o equipamento era acoplado às roupas dos policiais. O roteirista declarou que deixou de trabalhar com o delegado em julho de 2021, mesmo período em que Da Cunha foi afastado do cargo.
INVESTIGAÇÕES
Em agosto, um inquérito policial foi instaurado para apurar se o delegado usou a estrutura da Polícia Civil, como armas, agentes, viaturas e aeronave, para gravar vídeos de operações exibidas em redes sociais. O canal que ele mantém no YouTube chegou a ter 3,6 milhões de inscritos.
Da Cunha também é alvo de uma investigação preliminar por suspeita de ter simulado — e registrado em vídeo — o resgate de um refém e a prisão de um sequestrador na zona leste de São Paulo, em julho de 2020. Ele chegou a admitir que simulou a prisão do suspeito para gravar vídeo para o YouTube.
Ao Uol, o agente disse está tranquilo e que as acusações contra ele são absurdas.
DEFESA DO DELEGADO
O policial civil declarou que começou a gravar as operações policiais em 2013, com intuito de divulgar o trabalho da corporação e que no início pagava do próprio bolso até R$ 5 mil para o cinegrafista contratado. A Salinas, Da Cunha revelou pagar uma ajuda de custo de R$ 3 mil do próprio dinheiro.
Segundo o delegado, ele jamais monetizou os vídeos das operações no canal no YouTube, e disse que se tivesse feito teria lucrado UU$ 500 mil — equivalente a R$ 2.669.450 na cotação desta segunda-feira. Mas, assumiu que em apenas três ocasiões monetizou vídeos em podcast, mas não de ações policiais, e faturou R$ 200 mil.