O inquérito policial que investigava possíveis crimes de peculato cometidos pelo delegado Carlos Alberto da Cunha, 43, o Da Cunha, foi arquivado pela Justiça de São Paulo na última terça-feira (5). O delegado respondia por se aproveitar da estrutura da Polícia para gravar vídeos e publicar em seu canal pessoal no YouTube. As informações são da Folha de S. Paulo.
De acordo com investigação da Corregedoria, o delegado chegou a faturar R$ 500 mil com os vídeos desde o início do ano passado. A maior parte desse dinheiro viria de mesada dada por um empresário do ramo da sucata, que afirmou ter investido R$ 25 mil mensais por um ano e sete meses no canal de Da Cunha.
Segundo a Folha, a promotora do caso, Kátia Peixoto Villani Pinheiro Rodrigues, argumentou, porém, que não houve incorporação de bens públicos ao patrimônio do delegado ou de terceiros, não havendo, portanto, o crime de peculato — quando um funcionário público se apropria ou desvia bens a que tem acesso.
Apesar disso, Villani reconheceu a gravidade da conduta do delegado.
O juiz Fabio Pando de Matos determinou, então, que devem continuar a ser investigados os eventuais delitos cometidos pelo delegado, como abuso de autoridade e violação de sigilo funcional. Além disso, o magistrado requereu que a Promotoria do Patrimônio Público e Social apure eventual improbidade administrativa praticada por Da Cunha.
INVESTIGAÇÕES CONTRA DA CUNHA
De acordo com a Folha, o Ministério Público de São Paulo já tem inquérito aberto contra Da Cunha para apurar improbidade administrativa. Se o delegado for condenado nesse caso, ele pode perder o cargo e seus direitos políticos.
Além disso, Da Cunha ainda é investigado sob a suspeita de lavagem de dinheiro. Isso porque a Polícia acredita que ele possa ter usado a ex-mulher e o irmão dela para tentar esconder o dinheiro obtido com o empresário da sucata e com a monetização dos vídeos no YouTube.
VÍDEOS
O canal de Da Cunha no YouTube tem 3,6 mil inscritos e dezenas de vídeos publicados. O vídeo mais recente foi publicado nesta quarta-feira (6) e aborda o massacre do Carandiru.
Um mês atrás, o delegado divulgou o que seria sua “última operação policial”. No título do vídeo, ele mesmo revela: “Me tiraram das ruas depois desse dia”.
Segundo a reportagem da Folha, após ser retirado de suas funções, Da Cunha pediu afastamento da polícia e dois anos de licença sem vencimento. Ele se filiou ao MDB e pretende ser candidato ao Governo de São Paulo no próximo ano.
Nas acusações da Corregedoria e do Ministério Público, policiais relataram que o delegado chegava a simular prisões de suspeitos para o canal no YouTube.
Procurado nesta quinta-feira (6) pela Folha, Da Cunha não quis se manifestar.