A Operação Carro-Pipa, que leva água potável a moradores afetados pela seca em municípios do semiárido nordestino e de Minas Gerais, voltou a ser paralisada no Ceará há cerca de uma semana. O abastecimento está suspenso desde o último dia 11, quando o Exército Brasileiro, responsável pela execução do programa, enviou comunicado aos pipeiros solicitando a interrupção do serviço até que o Governo Federal libere verbas para a manutenção da operação.
No Ceará, segundo dados da Defensoria Pública da União (DPU), mais de 147 mil pessoas em 34 municípios dependem da água fornecida pelos caminhões-pipa. São moradores de áreas rurais atingidas por longos períodos de estiagem e chuvas abaixo da média, principalmente nas regiões do Sertão Central, Inhamuns e Noroeste.
Segundo informações do Exército, o abastecimento emergencial no território cearense é feito por 338 carros-pipa. Os veículos são contratados pela corporação para garantir fornecimento de água regular a todas as famílias atendidas pelo programa. O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) é responsável pelo custeio das despesas.
O pipeiro Reginaldo Bezerra, de Monsenhor Tabosa, no Sertão de Crateús, conta que os pagamentos estão atrasados há pelo menos três meses. “Recebi pela última vez em setembro. A gente procura o Exército, mas eles dizem que não tem verba. Semana passada, no dia 11, pediram pra parar [o abastecimento]”. O profissional diz que atende 16 famílias em Catunda, cidade vizinha com cerca de 10 mil habitantes.
Com a suspensão do abastecimento, Reginaldo relata angústia e impaciência nos moradores que dependem da água para as atividades básicas do dia a dia, como lavar louça, preparar as refeições e tomar banho. “O pessoal fica ligando o dia todo perguntando: ‘e aí, quando vai ter água?’. Muitos nem acreditam quando a gente fala que não tem verba, elas acham que a culpa é nossa”.
Para manter o veículo rodando mesmo com os atrasos nos pagamentos, o pipeiro disse ter contraído uma dívida de quase R$ 30 mil. “Abastecimento no posto, manutenção na oficina, tudo isso eu vinha fazendo fiado. Tô esperando receber para pagar”, declarou. Segundo ele, os 12 pipeiros que trabalham em Monsenhor Tabosa enfrentam situação semelhante. Todos paralisaram as atividades.
“O maior açude daqui (Monsenhor Tabosa), o Açude da Barra, está seco há vários anos. As pessoas, se quiserem, têm que comprar água para encher as cisternas. Aquelas famílias mais humildes, sem dinheiro, ficam pedindo à Prefeitura ou aos políticos”, relatou. De acordo com Danila, um carregamento de água com 16 mil litros fornecido por carro-pipa custa, em média, R$ 350. A depender do consumo da família, o volume pode ser suficiente para um mês de abastecimento.
Abastecimento foi suspenso também em novembro
Essa não é a primeira vez que a Operação Carro-Pipa é interrompida. Em novembro, o abastecimento também chegou a ser suspenso por alguns dias após um bloqueio de R$ 21 milhões no orçamento reservado para o programa. O dinheiro foi liberado pelo Ministério da Economia no fim do mês, mas o MDR aponta que a verba é insuficiente para garantir a manutenção do serviço em dezembro.
Na sexta-feira, 16, a DPU ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal pedindo que a União seja obrigada a aportar os recursos necessários para a continuidade da operação, além do pagamento de danos morais coletivos no valor de R$ 10 milhões. A petição argumenta que a suspensão afetou diretamente 425 municípios no Nordeste, prejudicando a sobrevivência de aproximadamente 1,6 milhão de pessoas que convivem com a escassez hídrica.