“Realmente tive medo de morrer”. A frase que abre esta matéria é do sargento do Corpo de Bombeiros, Jairo Oliveira Amorim, de 33 anos, que ficou à deriva no mar durante a noite desta terça-feira (6), na praia de Jericoacoara, litoral Oeste do Ceará.
O militar realizou uma operação de salvamento de um estrangeiro que praticava Kitesurf e, após este ato, não conseguiu retornar à sua moto aquática usada no resgate do turista francês.
Começava ali uma batalha pela vida. Os relatos a seguir foram narrados pelo Militar ao jornal Diário do Nordeste, em entrevista exclusiva. O sargento que por 13 anos atua como guarda-vidas no salvamento de pessoas, agora teria que lutar pela própria sobrevivência. Uma luta no escuro, em mar aberto. Uma batalha solo. E que teve final feliz. Tudo começou na noite da última terça, quando Jairo participou de um resgate. A ação foi bem sucedida.
Ele conseguiu resgatar o turista, mas voltou, em uma moto aquática, para pegar os equipamentos da vítima, que acabaram se enroscando na hélice do veículo, que parou de funcionar. Nesse momento, diante da agitação do mar e da moto com a hélice inoperante, ele não retornar.
“A maré estava puxando para trás. Pela minha experiência, eu sabia que se ficasse na moto não conseguiria me salvar”, conta. A presunção dele parece estar correta, tanto que até o momento a moto aquática ainda não fora encontrada.
“Decidi pular da moto. Quando pulei, iniciei uma preparação psicológica. Eu sabia que seria muito difícil chegar à terra firme. Fiquei entre 3 e 4 horas me preparando, tentando me acalmar e focando em um plano de ação. Não podia nadar verticalmente devido a força das ondas, só iria me cansar e as chances de sobreviver cairiam. Tinha que nadar para o lado”, ilustra.
O preparo físico exigido em uma situação extrema com esta, que eleva ao máxima a tensão e mexe com o psicológico, foi adquirido ao longo de quase toda sua vida. Logo aos 12 anos Jairo começou a se aventurar no surfe, “pegando pequenas ondinhas”, conforme rememorou Jairo, em entrevista telefônica concedida no caminho de volta para casa. Casa essa que não saía da sua mente.
“Eu realmente tive medo de morrer. Mas a medida que ia nadando, aumentava minha esperança de que iria sobreviver, até que depois de um tempo ouvi o barulho das ondas quebrando. Era indício de que eu estava próximo da terra firme”, detalha. O que aparentemente seria o início de um momento de alívio, foi revertido diante de novas “adversidades” — como se o alto mar e escuridão solitária da noite já não fossem elementos dificultosos o suficiente.
“Em determinado momento vários peixes me rodearam. Eu senti que eles me mordiam. Águas-vivas também batiam em mim. Foi aquele o momento em que tive mais medo. Ali, pensei em que iria morrer”, conta o sargento do Corpo de Bombeiros. Há 12 anos ele ingressou na corporação. Em mais de uma década de ofício, aprendeu técnicas, ganhou experiência e, interiorizou em sua mente que, diante da profissão que escolheu, o verbo “desistir” não poderia ser mencionado em qualquer que fosse a situação.