A restrição da oferta mundial e alta de 189% no preço do cacau no mercado internacional produzirá impactos na Páscoa deste ano. Nos supermercados cearenses, os ovos de chocolate ficarão, em média, 15% mais caros, segundo a Associação Cearense de Supermercados (Acesu).
“Esse crescimento de preço ocorre devido ao aumento nos custos de produção e insumos, além das variações de mercado típicas do período”, detalha Claudia Novais, presidente da Acesu.
Além disso, ela pontua que os supermercados estão adotando estratégias para minimizar os impactos ao consumidor final, como a realização de ofertas promocionais e redução das margens de lucro em determinados produtos.
“O objetivo é equilibrar preços e oferecer opções acessíveis, garantindo que os clientes possam continuar comprando dentro de suas possibilidades durante esse período de maior demanda”.
Assim como o setor supermercadista tem adotado medidas para mitigar os impactos do preço do cacau, a indústria deve recorrer a estratégias como adição de recheios e coberturas (biscoitos, por exemplo) para reduzir o uso do insumo nos ovos de Páscoa.
A avaliação é da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), que convocou coletiva na última quinta-feira (21) para apresentar os principais números do ano de 2024 e as perspectivas para 2025.
“O custo foi altíssimo para a indústria e uma parte teve que ser repassada em preço, mas não a totalidade. O gap entre o custo e o repasse é maior (do que em outras categorias)”, disse Gustavo Bastos, presidente do Conselho Diretor da entidade.
Ele prossegue detalhando que deve ser observada nesta Páscoa uma oferta maior de produtos “que tragam mais ingredientes na composição”. “Por exemplo, um ovo com recheio de biscoito, como o Serenata, porque tem um pouco menos de cacau na totalidade. É uma forma de lidar com essa situação”, afirma ele.
“Os preços não vão descolar do mercado de chocolates, seguindo o que se observou ao longo dos últimos 12 meses. A Páscoa é tardia este ano, vai ser meio de abril, mas se observarmos a evolução do mercado de chocolates em um ano, vai ser mais ou menos o que se observará no mercado de ovos de Páscoa”, frisa o presidente do Conselho Diretor da Abia.
A compra de ovos de chocolate para a Páscoa (ovos e outros produtos temáticos de chocolate) já foram negociadas pelo setor supermercadista cearense, segundo a Acesu, e os produtos devem ser recebidos no início de março.
Oferta mundial de cacau
Ao citar as commodities que tiveram forte elevação de preços, a Abia pontuou que, em junho de 2024, o cacau chegou a ter um pico de quase 300% e “grande parte da alta não é repassada, sendo absorvida pela indústria”, que busca otimizar custos com investimento em tecnologia.
“Os maiores produtores de cacau, na África, estão sofrendo com a crise climática e também sanitária, diminuindo a oferta”, disse o presidente do Conselho Diretor da Abia.
Ele lembra que o Brasil já teve protagonismo mundial na produção da commodity e que pode recuperar esse espaço. “A produção local tem aumentado, o que ajudou a segurar essas pressões globais”. Hoje, de acordo com ele, o Brasil é o sétimo maior produtor de cacau.
Indústria de alimentos
Ao falar os resultados da indústria alimentícia brasileira em 2024, o presidente-executivo da Abia, João Dornellas, citou a crise climática, as pressões de custos e o impacto cambial como desafios vivenciados no ano passado.
Apesar do cenário, o faturamento do setor chegou à cifra recorde de R$ 1,277 trilhão, alta de 9,9% na comparação com o ano de 2023.
No Ceará, segundo a Abia, a indústria de alimentos faturou R$ 17 bilhões em 2024 e gerou pouco mais de 51 mil empregos diretos.
“As pessoas de custos não são exclusividade do Brasil. No segundo semestre, o dólar se valorizou fortemente e isso afeta os custos. A gente é produtor de matérias-primas cotadas em dólar, então, subiu o dólar, sobe esse material, porque a procura no exterior aumenta”, afirma Dornellas.