Diante da crise hídrica pela qual o Brasil passa, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deve fazer reajuste na bandeira tarifária ainda este ano. A informação foi confirmada pelo diretor-geral da agência, André Pepitone, em audiência pública na comissão de Minas e Energia da Câmara nesta terça-feira (15).
De acordo com Pepitone, as projeções apontam que o valor da tarifa cobrada na bandeira vermelha, a mais cara, deve aumentar mais de 20%, o que deve encarecer ainda mais as contas de energia. O último reajuste do sistema foi em 2019.
Atualmente, a bandeira vermelha em patamar 2 acrescenta R$ 6,24 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos na fatura. Com o aumento, pode chegar a R$ 7,57. O reajuste deve ser divulgado nas próximas semanas.
“O que acontece é que todo ano, após o período úmido, que se encerra em abril, a Aneel discute qual será o valor de cada patamar da bandeira. Neste ano, estamos diante da maior crise hídrica dos últimos 91 anos”, pontou o diretor.
Essa tarifa extra vem sendo cobrada desde maio deste ano por conta dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas localizadas nas regiões Sul e Sudeste do país. Em junho, a Aneel acionou a taxa mais cara.
ACIONAMENTO DAS TERMELÉTRICAS
Com baixos recursos nas hidrelétricas, são acionadas as usinas termelétricas, encarecendo a produção de energia e, consequentemente, os valores que chegam ao consumidor final, conforme explicou Pepitone na audiência.
A estimativa é de que o acionamento vá gerar um custo adicional de quase R$ 9 bilhões neste ano. Até abril, segundo Pepitone, já foram gastos R$ 4,3 bilhões.
Com isso, o impacto nas tarifas deve ser de 5%, para desonerar, a cobrança extra acontece ainda em 2021, mas alguns reajustes vão ficar para 2022.
ACÚMULO DE DÍVIDAS
O diretor técnico do Sindicato das Indústrias de Energia e de Serviços do Setor Elétrico do Estado no Ceará (Sindienergia-CE), Daniel Queiroz, explica que o alto custo dessa energia é por um conjunto de fatores, não só a escassez de chuvas.
“A pandemia, o apagão de Roraima, estamos chegando a vários cálculos que vão sendo repassados ao consumidor final”, diz.
Para ele, portanto, é preciso que o consumidor faça uma boa gerência do consumo.
“É procurar tentar economizar, se puder investir em energia solar. Não tem espaço no curto e médio prazo pra uma redução dos valores a nível sistêmico, pois já estamos usando o ‘cheque-especial’ da energia”, pontua.
RISCO DE DESABASTECIMENTO
Apesar desse cenário, tanto o diretor-geral da Aneel quanto o diretor técnico do Sindienergia descartam um desabastecimento do serviço no Brasil.