Mesmo com veto de Carmelo Neto, dirigentes articulam ‘jeitinho’ de manter coligações com PT e PL

Desde que o  presidente do PL Ceará, o deputado estadual Carmelo Neto, anunciou oficialmente o veto a alianças do seu partido com o PT, correligionários do político têm articulado formas de dar um “jeitinho” e driblar a determinação partidária. Nos municípios onde havia coligação entre as duas siglas, pré-candidatos já falam abertamente em apoio informal dos bolsonaristas locais, mantendo uma aliança extraoficial entre PT e PL.

“Nosso interesse no PL era o tempo de propaganda gratuita no rádio. O partido mesmo nem lançou chapa para vereador aqui, então perder o apoio do PL não muda nada para a gente politicamente. O deputado Júnior Mano, que é do PL, assim como as lideranças daqui, vão continuar nos apoiando do mesmo jeito”. A declaração, concedida ao PontoPoder nesta quarta-feira (24), é do pré-candidato a prefeito de Ipueiras, Neném do Cazuza.

Ele, que é filiado ao PSB, tem como pré-candidata a vice-prefeita a petista Idelva Martins. Foi o material de divulgação da convenção dos dois que deflagrou toda a contenda envolvendo coligações do PL e do PT.

Ao se deparar com a peça publicitária, na última segunda-feira (22), Carmelo Neto publicou um vídeo em que dissolve a comissão provisória do PL Ipueiras. No material de pré-campanha, os emblemas partidários das duas legendas aparecem próximos, além da imagem de lideranças políticas como o presidente Lula, o ministro da Educação, Camilo Santana, e o governador Elmano de Freitas, todos do PT.

 

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Legenda: Postagem sobre as convenções partidárias que reuniriam PT e PL em Ipueiras.
Foto: Reprodução/Redes sociais

 

“Onde o PT tiver, o PL vai estar do outro lado. Por isso que eu estou dissolvendo agora a comissão provisória do partido em Ipueiras porque não vamos aceitar PL e PT do mesmo lado. Repito: onde o PT tiver, o PL vai estar do outro lado. Essa é a nossa decisão e se tiver alguma comissão com a pretensão de coligar com o PT, saiba que será dissolvida no dia seguinte”, informou Carmelo Neto em vídeo publicado nas redes sociais.

VETO À ALIANÇA PT-PL

A posição do dirigente do PL não é novidade. Em entrevista na live do PontoPoder, em 30 de novembro do ano passado, ele adiantou que não aceitaria coligações com o PT, independentemente da realidade local.

“Tudo pode ser possível, menos uma aliança do PL com o PT. Isso é uma determinação nacional do partido, que vale em todo o País, e eu, como presidente estadual, vou fazer valer essa determinação a rigor aqui no Estado. Não coliga com o PT, não faz acordo com o PT, não participa de nenhum alinhamento com o PT em nenhum município”, assinalou Carmelo.

“Realmente chegou ao nosso conhecimento alguns outros municípios (além de Ipueiras), mas aí o prefeito vai ter que escolher, ou ele fica com o PL ou ele fica com o PT. Se quiser que o vice continue candidato ao lado dele, se quiser que o PL continue apoiando, que o PT saia da coligação, caso contrário, sai o PL”, disse.

“Nós precisamos combater essa gente, combater essa turma do PT. Não é ódio, é indignação, porque eu sei o que o povo está passando, eu sei o que o povo está vivendo”, acrescentou. O político ainda destacou que, caso alguma convenção municipal oficialize a coligação com o PT, “no outro dia será anulada e a comissão provisória dissolvida”.

IPUEIRAS

Em Ipueiras, mesmo após o veto anunciado por Carmelo Neto, o perfil oficial do pré-candidato Neném do Cazuza e da vice Idelva Martins mantêm os materiais de divulgação com o PT e o PL juntos. A chapa, inclusive, tem a benção do deputado federal Júnior Mano, um dos principais aliados do futuro candidato a prefeito. O parlamentar aparece no material de pré-campanha ao lado dos petistas Lula, Camilo e Elmano.

 

“O PT vai compor com a gente do PSB indicando a vice-prefeita, então respeitamos muito o presidente estadual Carmelo, mas politicamente, para a gente, não muda nada. As lideranças de Ipueiras do PL continuam conosco”
Neném do Cazuza (PSB)

Pré-candidato a prefeito de Ipueiras

 

Como reconhecido pelo presidente do PL Ceará, o caso de Ipueiras não é exceção. O PontoPoder mapeou outros municípios onde essa articulação entre PT e PL deve ocorrer informalmente.

BATURITÉ

Em Baturité, a coligação que envolve a pré-candidatura à reeleição do prefeito Herberlh Mota (Republicanos) e do vice-prefeito, Irmão Carlinhos (PSB) conta com o PT.

Com a convenção marcada para o próximo sábado (27), o atual chefe do Executivo da Cidade disse à reportagem que também contará com apoio de lideranças do PL de Baturité, mas não da sigla oficialmente.

“Eles vão fazer a convenção separada, mas declarando total apoio à nossa campanha”, informou. Nesta quarta-feira, em nota pública, o presidente da sigla na cidade, Elias Freire Nogueira, anunciou que “não oficializará a coligação com o PT” em Baturité.

 

Nota do PL de baturité
Legenda: Nota do PL de Baturité
Foto: Divulgação

 

“No entanto, reiteramos nosso compromisso e apoio incondicional ao pré-candidato e atual prefeito Heberlh Mota, do Republicanos”, escreveu o dirigente partidário, que tem como principais aliados no PL Ceará os deputados Dr. Jaziel (PL) e Dra. Silvana (PL).

ALTO SANTO

A situação de Baturité e de Ipueiras se repete também em Alto Santo. O pré-candidato à reeleição na cidade é José Joeni (PP), em uma chapa que tem como vice a petista Genileuda. Na peça publicitária que anuncia a oficialização da candidatura da dupla, PT e PL aparecem no arco de aliança.

Como Genileuda integra os quadros do PT, a “solução” para a chapa foi tirar o PL da lista oficial da coligação e contar com um apoio informal dos bolsonaristas. Autorizado por Joeni, Cristiano França, um dos assessores do pré-candidato, explicou a articulação.

 

“O PL aqui compõe apenas a base de apoio e o cabeça de chapa é do PP. Então, na prática, não muda nada, eles não vão deixar de nos apoiar na campanha, só não vai ter o nome lá do lado do PT (…) A gente lamenta essa questão toda, mas entendemos que é uma questão de ideologia deles lá, não concordamos, achamos radicalismo, mas entendemos”, disse.

 

Procurado pelo PontoPoder,  o presidente do PL de Alto Santo, Irmão Júnior, disse que houve um “mal entendido” na publicação da peça publicitária com seu partido junto ao PT. “Somos 100% PL, de Jair Bolsonaro, jamais faremos coligação com o PT, não procede. Aqui é PL 100%, somos PL, estamos juntos com PL, somos 100% PL”, repetiu o dirigente.

Questionado sobre que significa a posição “100% PL” na disputa da cidade onde a sigla não tem pré-candidato a prefeito, Irmão Júnior parou de responder à reportagem. Na terça-feira (23), ele publicou uma nota de esclarecimento em que anuncia que não oficializará coligação com o PT. Contudo, assim como em Baturité, o dirigente local refirma “compromisso e apoio incondicional” ao pré-candidato José Joeni, do PP, omitindo que a pré-candidata a vice-prefeita é do PT.

 

Nota do PL de Alto Santo
Legenda: Nota do PL de Alto Santo
Foto: Divulgação

 

ARATUBA

Já em Aratuba, o movimento seria inverso. A articulação envolve a saída do PT para um apoio informal à chapa liderada pelo atual prefeito, Joerly Vitor (Republicanos), pré-candidato à reeleição. Na vice, quem o acompanha na disputa é Chico Abel, do PL.

Um dos pré-candidatos a vereador e assessor de Joerly, que pediu para não ser identificado, explicou como a chapa pretende manter o apoio de petistas e bolsonaristas, apesar do veto do PL Ceará.

“Na verdade, temos apoio de deputados do partido e seguimos mantendo o PL e o PT. Estou conversando com os dirigentes do PL, mas não houve nenhuma conversa direta sobre isso, então, seguimos mantendo a coligação do mesmo jeito”, disse.

 

“Caso a gente tenha que escolher, vamos manter o PL, por conta do vice, mas já conversamos com o pessoal do PT para que eles continuem com a gente. Só perderíamos o tempo de propaganda gratuita, mas seria uma saída técnica, sem o apoio oficial, mas os membros do partido nos apoiaria”, completou o interlocutor do prefeito.

 

Procurada pela reportagem, a presidente do PT de Aratuba, Maria Tânia, não foi localizada.

O presidente do PL Ceará, Carmelo Neto, também foi questionado sobre esses apoios informais de seus correligionários à coligação com o PT. O PontoPoder aguarda retorno do parlamentar.

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