Grupos médicos cearenses, que inclui o Coletivo Rebento, a Associação de Médicas e Médicos pela Democracia e a Rede de Médicos Populares, divulgaram nesta quarta-feira, 24, uma nota cobrando ações urgentes para o enfrentamento contra a Covid-19. Após o Brasil ultrapassar mais de 300 mil mortos pela doença, o grupo pede uma “urgente uma saída humanitária” que evite uma futura piora na crise de saúde brasileira.
No dia 17 de março, o grupo promoveu um manifesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que reuniu mais de mil assinaturas. Os profissionais, autointitulados em defesa da vida, da ciência e do Sistema Único de Saúde (SUS), consideram que sem uma “grande mudança” a situação seguirá piorando. No mesmo dia, outro grupo da categoria se posicionou a favor do presidente.
Além de pedir a garantia da vacinação rápida por maior parte da população para impedir uma nova onda de casos, o documento solicita medidas que promovam o isolamento social, enquanto a imunização não chega para toda a população. Os médicos também consideram “vital o auxílio emergencial em valor condizente com a dignidade”.
O documento considera tardia a criação de um grupo de ações contra a pandemia pelo governo federal. “Mais de um ano depois de a doença ter chegado ao Brasil! Sem pedidos de desculpas nem anúncio de ações concretas! E novamente insistindo em falar em “tratamento precoce”, que simplesmente não existe. Uma insistência propositada em uma ideia fatal”, critica.
Os médicos avaliam que as manifestações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em rádio e TV, na última terça-feira, 23, foram “mentiras ensaiadas” e com “promessas que não convencem ninguém. “Palavras em que nem quem as pronunciou acredita”, diz o texto. Eles também reforçam a recusa em utilizar, “diante pesquisas científicas e por princípio ético”, tratamentos e medicamentos sem comprovação científica de eficácia.
A nota reforça apoio a iniciativa de ampliação da rede de assistência à saúde, e defendem a atuação de prefeitos e governadores em tomar as medidas de proteção coletiva, inclusive na aquisição de vacinas, “diante da absoluta lentidão do Governo Federal”. O grupo termina o texto exigindo responsabilização de Bolsonaro, acusado de não ter seriedade contra a pandemia. “motivo de vergonha, lamento, preocupação, para nós e para o mundo”, afirma.
Confira a nota na íntegra:
Mais de 300 mil brasileiros e brasileiras mortos por Covid-19. Atualmente, a cada dia, 1 de cada quatro vítimas fatais da doença no mundo está no Brasil. Pandemia em ascensão e em total descontrole.
Enquanto isso, somente hoje, 24 de março de 2021, o Governo Federal anuncia, ao lado dos representantes do Legislativo e do Judiciário, a criação de um grupo de ações contra a pandemia. Mais de um ano depois de a doença ter chegado ao Brasil! Como se tivessem sido necessárias 300 mil mortes para se perceber o óbvio! Sem pedidos de desculpas nem anúncio de ações concretas! E novamente insistindo em falar em “tratamento precoce”, que simplesmente não existe. Uma insistência propositada em uma ideia fatal.
Indignação é a reação natural, também diante das mentiras pronunciadas pelo presidente da República em rede nacional de rádio e televisão na noite de ontem. Mentiras ensaiadas. Promessas que não convencem ninguém. Palavras em que nem quem as pronunciou acredita.
Como já destacado em manifesto assinado por mais de 1.100 médicos cearenses ou atuantes no Ceará, sem uma grande mudança no plano nacional, essa situação, já inaceitável, seguirá infelizmente piorando. O Governo Federal boicota, desde o início, as medidas de combate à pandemia. Poderíamos até dizer que por incompetência, mas não: é justamente esse o projeto.
Como médicas e médicos, tornamos a reivindicar:
1. Precisamos urgentemente de uma saída humanitária para essa grave crise! É fundamental garantir que a maior parte da população seja vacinada de forma rápida para impedir nova onda de casos. É necessário o isolamento social, para diminuir as mortes enquanto a vacina não chega a mais gente. É vital o auxíilio emergencial em valor condizente com a dignidade.
2. Não podemos nos calar diante do projeto que prioriza a morte. Repúdio é o nosso sentimento pelo governo Bolsonaro.
3. Diante das pesquisas científicas e por princípio ético, nos recusamos a utilizar tratamentos e medicamentos sem comprovação científica de eficácia. Repudiando a insistência nesse caminho, defendemos as condutas corretas, que salvam vidas, com base na ciência;
4. Apoiamos a iniciativa dos governadores e prefeitos em ampliar a rede de assistência à saúde, em tomar as medidas de proteção coletiva e, inclusive, em adquirir vacinas eles mesmos, diante da absoluta lentidão do Governo Federal em tomar essas medidas;
5. Exigimos a responsabilização de Bolsonaro e de seu governo, que não tiveram seriedade contra a pandemia, permitindo que o País chegasse à atual situação, motivo de vergonha, lamento, preocupação, para nós e para o mundo.
Basta! Chega de desrespeito à vida! Chega de projeto de morte! Nós, médicas e médicos do Ceará, reivindicamos a defesa da vida, da ciência, do SUS.
Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS. Fortaleza, 24 de março de 2021.
Via: Jornal Opovo